segunda-feira, 25 de março de 2013


- Marques ' Almeida
Optando por uma abordagem diferente da habitual, mas sem perder o estilo e ADN da marca, a dupla de designers Marta Marques e Paulo Almeida decidiram apostar na exploração do conceito eveningwear. O uso de novos tecidos, os quais não estamos habituados a ver em Marques ' Almeida, foi também um dos aspectos que marcaram esta colecção. Caracterizada pelos anos 90, viu-se, como não poderia deixar de ser, muita ganga a desfilar na passarela. A novidade foi o uso de tecidos como a seda selvagem e de alguns materiais como pele e pêlo. O que mais gosto nos desfiles de Marques Almeida é aquele efeito visual inacabado, muito fiel ao conceito e imagem da marca. Adoro o aspecto grunge underground dos coordenados. A I don’t care atittude que se vê em cada peça evidencia uma rebeldia e desprendimento, abrindo margem para a exploração de outros caminhos. Destaque para as parkas, para as calças oversized e para a escolha das cores, evidentemente urbanas. Londres faz bem às pessoas.

Fotografia por Rui Vasco


- V!TOR
Se houvesse um verbo para descrever a acção de se fazer as coisas com amor, dedicação, atenção e carinho... Esse verbo seria V!TOR. Com inspiração em deuses, musas e diversas divindades, a colecção V!TOLOGY revelou-se muito divertida e cheia de impacto visual. O carácter desportivo continuou presente e isso viu-se pela aposta em peças que são já a imagem de marca de V!TOR, como é o caso dos hoodies. A organização deste desfile foi fantástica, viu-se claramente que cada detalhe foi pensado ao pormenor. Desde a patinadora que abriu o desfile, até à decoração da sala e passando, também, pelo fecho do desfile com a presença da Jemima Daisy Compton, nada foi deixado de parte. No que diz respeito aos coordenados apresentados, pudemos observar uma grande diversidade de padrões. Contudo, o que eu gostaria de destacar são as pregas e os cortes em diagonal, assim como o uso de riscas e do metálico. Igual destaque para todo o styling, principalmente as unhas. Outros aspectos a remarcar são as mangas, os ténis, os casacos e, sem dúvida alguma, os estampados que envolviam em si pura magia. Conchas, cães, gatos, criaturas marinhas... Divindades para todos os gostos que tanto nos remetiam para as crenças egípcias e a sua adoração aos gatos, bem como nos faziam lembrar a figura de Buda em forma de cão. As alusões a criaturas marinhas foram igualmente evidentes tanto nos estampados, bem como nos acessórios (destaque para as headpieces). A paleta cromática salientou o preto, azul e salmão, o que veio ajudar à criação da ideia de uma religião muito própria e específica, falo da religião da marca V!TOR que se reflecte na visão criativa do designer Vítor Bastos e do seu braço-direito, Luísa Cativo.

Fotografia por Rui Vasco


- Dino Alves
Ao entrar na sala de desfiles, dávamos imediatamente conta de que esta apresentação seria diferente. Não se podia sentar nos lugares dispostos no centro da sala (a esta secção costuma chamar-se de "ilha"). Isto fez-me ficar na expectativa daquilo que iria acontecer, suscitando-me uma sensação de suspense e de interesse imediato. Será que a parte central vai ser incorporada no desfile? Tendo em conta que a colecção de Dino Alves tem como mote deixarmos a nossa pegada e contarmos a nossa própria história, será que no final vão todos ficar alinhados lá em cima, deixando cada um a sua marca? Enquanto eu me perdia em pensamentos, entrou um grupo de crianças com livros na mão que se sentou na "ilha" a ler. Escuta-se o virar das páginas como som de fundo. E eis que se começa a contar uma história... As manequins entram e desfilam pela passarela coordenados alusivos à leitura e aos livros. As cores escolhidas são características da época em que ainda se usava folha de pergaminho: tons nude, castanhos, bordeaux, rosa e azuis delicados. A cada peça que passava, mais o meu interesse se avolumava. Viram-se vários tipos de pregas, painéis sobrepostos, diversas texturas e transparências. Destaco os apontamentos em layering de folhas, quer na frente quer no verso de alguns coordenados, reproduzindo as páginas abertas de um livro. Destaque ainda para a estampagem de letras, que me conduziu à ideia de podermos escrever uma história na nossa roupa, podendo levá-la para qualquer lado. Gostei ainda do facto de algumas peças me fazerem lembrar bibes ou uniformes de escola, não fosse aí que muitos de nós aprendemos a ler e a comunicar na forma escrita. No que diz respeito a pormenores que não gostei tanto, queria apenas fazer o reparo de ter achado que a altura de algumas peças era um pouco questionável. Apesar de ter gostado de umas calças curtas, achei alguns vestidos e calções demasiadamente curtos e reveladores. Como peças favoritas, destaco, sem dúvida, os vestidos e um casaco masculino, devido à originalidade do seu corte.

Fotografia por Rui Vasco


- White Tent
A dupla de criadores composta por Pedro Noronha-Feio e Evgenia Tabakova apresentou, nesta edição da ModaLisboa, uma colecção que segue o rumo da sua antecedente. Diferente da colecção Outono-Inverno 2012/2013, as propostas para a estação fria de 2013/2014 têm como premissa a exploração de novos materiais, nos quais se inserem o crepe de seda. Outra grande novidade foi o estampado camuflado em dois tons de cinzento. Ao nível do calçado, a colaboração com a Fly London resultou às mil maravilhas, algo de que não estava à espera devido ao hábito da opção por ténis. Antes do desfile propriamente dito começar, assistimos a um pequeno vídeo referente ao lookbook desta estação. O vídeo foi exibido no ecrã da sala e produzido por João Bacelar que colabora frequentemente com os White Tent, assim como a sua esposa Susana Jacobetty. Tanto o vídeo, bem como a música eram deveras amorosos, o que me animou para o resto da apresentação. Caracteristicamente leve, fluída, desportiva e effortless, a colecção dos White Tent não surpreendeu muito. Gostei de alguns pormenores nas costas, do uso de zippers e cordões (detalhe amoroso) e do styling minimalista. Destaco as saias rodadas, assim como algumas das cores escolhidas (encarnado, branco, cinzento e taupe). Saliento igualmente as malhas fantasia com fios metalizados. Houve um coordenado em especial que captou a minha atenção já no final do desfile, falo de um vestido em colour blocking em tons de branco, verde e cinzento. O coordenado anterior a este vestido e o que lhe seguiu foram, na minha opinião, os pontos altos do desfile.
Para assistir ao vídeo exibido, clicar aqui: www.vimeo.com/61546743 (por João Bacelar)

Fotografia por Rui Vasco


- Miguel Vieira
Tendo como foco a mulher, o objectivo da colecção apresentada por Miguel Vieira prendia-se na valorização e exaltação da figura feminina. O desfile começou desde logo de forma muito intensa e forte, não fosse essa a imagem que o designer pretendia passar. Aproveitando o facto de celebrar 25 anos de carreira, Miguel Vieira apresentou-nos propostas de acessórios dentro dessa temática, como foi o caso dos colares com o número 25. Entre jogos de silhuetas curtas/longas e cortes delineados/rectangulares, viram-se, uma vez mais, diversas texturas espelhadas em tecidos maioritariamente pretos e brancos, enaltecidos por apontamentos metalizados. As golas e os padrões foram um dos pontos altos, especialmente os padrões floridos e em polka dots. Transmitindo uma ideia de poder e de luxo, a colecção revelou-se ainda impecável ao nível da execução. Destaque para as costas abertas, assimetrias, malhas e lantejoulas. Dos meus coordenados favoritos, destaco peças como um hoodie, algumas clutches, capas e, especialmente, um jumpsuit em lantejoulas absolutamente divino. 

Fotografia por Rui Vasco


- Filipe Faísca
Intitulada "Burro", a colecção de Filipe Faísca prometia um "retorno às origens". Fazendo uso do burel e do pêlo de ovelha, materiais tradicionalmente portugueses, o designer apresentou propostas para o Outono-Inverno 2013/2014 inspiradas no nosso país, mostrando, assim, que a confiança reside em apostar no trabalho desenvolvido ao nível nacional. O desfile começou de forma confusa, pois as manequins percorreram a passarela de forma diferente, o que veio evocar o título que inspirou esta colecção. Inicialmente, fiquei baralhada com o percurso das manequins. Contudo, esta opção permitiu-me ver os coordenados de ambos os lados e, pelo menos, duas vezes. Tal facto revelou-se muito positivo pois pude ver com precisão cada pormenor. Destaco as riscas horizontais e os padrões tartan que faziam lembrar flanela, o que conferiu um aspecto visual muito grunge a esta colecção. Aliás, o próprio styling (boinas desfiadas, cabelo ripado, texturas) transmitia uma sensação de um grunge chique. No que diz respeito a aspectos negativos, tenho apenas a apontar o facto de num dos coordenados apresentados ser possível ver com nitidez as nádegas de uma das manequins. Não me pareceu propositado, mas sim descuidado.

Fotografia por Rui Vasco


- Nuno Gama
Quando falamos de Nuno Gama é impossível não lhe associarmos um conceito de ideal de perfectibilidade e virilidade. Ao longo dos seus 20 anos de carreira, o criador tem vindo a definir um tipo de homem muito específico. Este desfile ficou marcado pela presença de diversos elementos que marcaram a carreira do designer: bigodes, luxo, laços, algodões, lãs, padrões e lenços de Viana. É difícil para mim escrever relativamente a este criador pois, pessoalmente, não me identifico com a ideologia da sua marca. Contudo, questões pessoais à parte, foi um desfile muito bem organizado e conseguido, pois reflectiu em poucos minutos o crescimento e sustância que a marca tem vindo a adquirir ao longo dos anos.

Fotografia por Rui Vasco


Marta F. Cardoso

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1 Comentários:

  1. Gostei muito do resumo das coleções, finalmente alguém que não repete o press release!!!! e "pensa" as coisas.A moda é como outra qualquer disciplina tem que se ter conhecimento e fazer o elo com a história para melhor se comprender o presente. Não há muita gente a saber de moda em portugal, o jornalismo de moda aqui não existe.
    beijinhos
    Paula Lamares

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