terça-feira, 23 de julho de 2013

Dia Internacional dos Museus
18 de Maio, 21h00, Museu Nacional do Traje

– Conversas Cruzadas –
Criadores e Bloggers de moda em Portugal
José Cabral, O Alfaiate Lisboeta
Marta F. Cardoso, Trend me too
Paula Lamares, Fashion Heroines
Pedro Noronha-Feio, White Tent
Sandra Martins, designer de moda
Vítor Bastos, V!TOR

No Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio, este ano subordinado ao tema MEMÓRIA + CRIATIVIDADE = MUDANÇA SOCIAL, o Museu Nacional do Traje convidou bloggers e jovens criadores de moda para uma discussão, na boa asserção da palavra, com foco na problemática da industrialização e em temáticas relacionadas com o ciberespaço da moda em Portugal.
Estamos cada vez mais a caminhar para uma sociedade quase totalmente desprovida da acção da natureza no nosso dia-a-dia e crescentemente demarcada pela influência das tecnologias (que já nem podem ser chamadas de novas tecnologias, tendo em conta que hoje já se nasce a saber mexer num computador e que ter no CV que se tem experiência a trabalhar em Office é um dado adquirido).

Neste sentido, é pertinente discutir o ciberespaço de moda português aliado às mudanças sociais que o mesmo implica, nomeadamente na leitura de jornais e revistas, por exemplo, e também ao nível do contacto humano.

Será que ainda existe a necessidade de nos reunirmos e discutirmos em forma de tertúlia, tal Fernando Pessoa, Almada Negreiros ou Mário de Sá Carneiro? Estarão estas tecnologias todas a ocupar um espaço que não deverá, ou não deveria, ser preenchido pelas mesmas? Esta última questão remete-nos ainda para a seguinte: será que estas tecnologias são facilitadoras ou, noutro ponto de vista, devastadoras? Ou seja, em que sentido é que a informatização auxilia ou prejudica a indústria da moda?

A discussão interna raramente gera respostas, apenas cria mais perguntas. Por esse motivo, com a organização do Museu Nacional do Traje, estas questões foram debatidas em mesa-redonda no dia 18 de Maio às 21h00, contando com a presença de José Cabral (O Alfaiate Lisboeta), Marta F. Cardoso (Trend me too), Paula Lamares (Fashion Heroines), Pedro Noronha-Feio (White Tent), Sandra Martins (designer de moda) e Vítor Bastos (V!TOR).

A conversa foi moderada por Sandra Martins e Marta F. Cardoso que colocaram tanto os bloggers, bem como os designers em confronto, originando uma discussão amigável de ideias. Na plateia, encontravam-se algumas caras conhecidas, como a Dra. Clara Vaz Pinto (directora do Museu) e a Dra. Cristina Duarte (socióloga e jornalista de moda). Alguns bloggers conhecidos ocupavam também as cadeiras deixadas a propósito para a assistência, como foi o caso de Tiago Loureiro, blogger e designer de moda. Outros, como Alexandre Romero, eram directores de projectos artísticos. Mais à frente, mesmo na primeira fila, sentaram-se pessoas atentas que iam tirando notas à medida que o debate se desenvolvia.

Apesar da diversidade, foram poucos os que assistiram a este debate, talvez devido ao facto de o evento ter sido divulgado com pouca margem de antecedência. Outro aspecto, mencionado por Paula Lamares, que se pode apontar para justificar a fraca comparência de pessoas é o facto de a moda ter um público-tipo muito específico que, provavelmente, ainda não se vê ou revê no Museu Nacional do Traje. Não obstante, a noite foi muito interessante e cheia de um carácter intimista, o que permitiu a reflexão não só dos oradores, mas também do público.

A sessão iniciou-se com a autoapresentação dos bloggers e designers. Após essas breves apresentações, Paula Lamares exibiu um PowerPoint intitulado “Os Desafios Actuais da Moda Portuguesa”, onde discutiu a importância da moda, o impacto da globalização, a faca de dois gumes competitividade vs sustentabilidade e a crise económica aliada ao processo de industrialização.

O mote do debate estava lançado. E, a partir dele, a discussão de ideias fluiu.

Vários foram os temas debatidos. Começou por se falar dos blogues enquanto disseminadores de moda, cultura e identidade. Neste ponto, tanto bloggers, bem como designers pareciam estar de acordo: a divulgação virtual do trabalho dos designers de moda, trabalhem eles em nome próprio ou em dupla criativa, tem mais pontos positivos do que negativos.

Este género de divulgação permite um tipo muito específico de publicidade, tal como é o caso de passatempos aliciantes para quem lê ou simplesmente visita um dado blogue de moda. Tal como explicou Vítor Bastos: “Os giveaways são uma forma de dar a conhecer a nossa marca a outros públicos”, dando o exemplo de um passatempo que a sua marca V!TOR, gerida por si e por Luísa Cativo, lançou num blogue francês, na tentativa de aliciar o público desse país para a compra de peças e produtos da marca.

Contudo, a promoção e divulgação online de uma marca não se faz apenas pela organização de passatempos. Pedro Noronha-Feio explicou que a equipa dos White Tent, constituída por Pedro e Evgenia Tabakova, não tem uma presença online muito demarcada, acrescentando que as acções de marketing que se encontram a desenvolver no mundo virtual são ao nível das e-stores, estando presentemente a dupla de designers a criar a sua própria loja.

As redes sociais desempenham igualmente um papel muito importante e delimitador de uma audiência e público consumidor. Vítor recorre mais ao Facebook do que Pedro, mas ambos usam esta ferramenta para cativar admiradores antigos e ganhar outros mais recentes.

Apesar de ser importante divulgar uma marca online, como se estivéssemos a afirmar perante o mundo que “estamos aqui” ou, então, que “estamos por toda a parte”, não são só os designers que têm esta necessidade de promoção e de se darem a conhecer. Também os bloggers utilizam ferramentas como as redes sociais para promoverem as suas páginas e para partilharem os seus artigos ou as suas fotografias. Ao fim ao cabo, tal como José Cabral explicitou “um blogue é uma marca”.

Tal como todas as marcas, um blogue pode, por um lado, ser produzido em massa e com materiais menos nobres ou, por outro lado, pode ser trabalhado com os melhores materiais e dedicação, evitando o desmesuramento da produção em série. Foi neste ponto da discussão que Paula Lamares se interrogou, então, relativamente à forma de como poderíamos delimitar ou definir a qualidade de um blogue. José Cabral respondeu que “a qualidade de conteúdos é relativa”, por isso, cabe ao leitor mais atento escolher aquilo que quer ler e consumir.

Feliz ou infelizmente, a escolha é muita e variada, não vivêssemos nós numa sociedade ocidental marcada pelo consumo e pelo fenómeno da globalização. Todos somos sujeitos influenciáveis, de uma ou de outra forma, por inúmeras tendências. Os blogues de moda talvez sejam uma delas, devido, principalmente, ao facto da liberalização do espaço e da liberdade de comunicação serem dois factores garantidos quando se cria um blogue. Não podemos fugir ao facto de serem um espaço privado, pessoal e gerido por quem os cria, o que lhes confere uma conotação imediata de independência. Neste sentido, tal como José Cabral mencionou, podemos considerar estes espaços virtuais como “um admirável mundo novo”, no qual cada um de nós se cria, ou recria, da forma que melhor entender, partilhando aquilo que quiser partilhar.

Vistas bem as coisas, a promoção de um blogue e a promoção online de uma marca não são água e azeite. A comunicação via Internet é contínua, pelo que é feita todos os dias sem parar, gerando proximidade. Isto é válido tanto para marcas que queiram divulgar a sua imagem em blogues, bem como para blogues que se queiram promover noutros websites.

A divulgação em blogues, na maior parte das vezes, não apresenta qualquer tipo de custo ou, se apresentar, são custos reduzidos. Em qualquer caso, tanto o blogger, bem como o designer ficam a ganhar. O blogger ganha pois tem conteúdos de qualidade e que chamam leitores e o designer ganha pois vê a sua marca divulgada praticamente a custo zero. Não obstante, a grande dificuldade está na gestão de todo este marketing inovador que se prende em três grandes questões: Quem vê? O quê? Onde?

A resposta a estas questões ajuda na intervenção da marca. Pedro Noronha-Feio explicou que se souber o que o seu cliente-tipo procura melhor irá ao encontro das suas necessidades, acrescentando que “os designers são designers, não são experientes em tácticas e estratégias de gestão e marketing”, pelo que estar ciente disto cria uma melhor resposta e adaptação ao mercado.

Resumindo, se trabalharmos em consonância e com paixão e amor por aquilo que fazemos, é possível a criação de sinergias que potencializam o nosso trabalho. São debates como estes que geram a dúvida e que colocam questões no ar, muitas delas, por vezes, de difícil resposta. E, se no início deste texto dizia eu que a discussão interna raramente gera respostas, apenas cria mais perguntas, termino agora dizendo que o debate não traz respostas para tudo, mas, pelo menos, ilumina e esclarece-nos mais as ideias, fazendo-nos pensar em vertentes e hipóteses que provavelmente nunca considerámos. Para rematar, uma frase de José Cabral: “No dia em que eu não sentir paixão pelo que faço, mais vale não o fazer de todo”.

Marta F. Cardoso

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2 Comentários:

  1. Obrigada Marta, fizeste um resumo fantástico que me fez rever momentos muito agradáveis. Adorei a inicitaiva, mas, aconselho da próxima a uma maior divulgação junto do público alvo e talvez com a ajuda da Modalisboa. Tenho a certeza que a Eduarda Abbondanza ajudaria com gosto nessa divulgação, através do facebook e do blog da Modalisboa.

    Bom trabalho.

    Paula Lamares

    http//fashionheroines.blogspot.com

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    1. Obrigada Paula pelo elogio e feedback :)

      Um beijinho,
      Marta F. Cardoso

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