quinta-feira, 4 de julho de 2013


1. Qual é a inspiração que está por trás de "Under Control"?
"Under Control" é uma colecção que resulta de um momento de introspecção, reflexão, simplificação. Experiência de carácter pessoal, sensorial e empírica. Difícil de explicar... Aliás, devo dizer que para mim é embaraçoso falar sobre a inspiração desta colecção, uma vez que não é algo palpável ou que eu possa demonstrar. Na verdade, ela é uma súmula de um período de metamorfose que ocorreu na minha vida pessoal e que se reflectiu no meu trabalho.
Fotografia de António Vilardebó

2. Quando crias algo novo, ou projectas uma nova colecção, qual é o teu estado de espírito?
Grande parte dos coordenados foram reformulados durante os meses de desenvolvimento do projecto e, inclusivamente, alguns objectos foram projectados na semana anterior ao desfile, posto que fui sendo consumido por diferentes estados de espírito e, até mesmo, pelas mudanças climáticas que fizeram com que "Under Control" deixasse de ser uma colecção de Inverno e incluísse peças mais frescas, de meia estação. O styling no desfile reforçou essa ideia.

3. O que pretendes transmitir com a colecção?
Não me concentrei em tendências, modismos ou, até mesmo, em conceitos rebuscados. Quis, sim, fazer vestuário simples, mutável, intemporal, adaptável e que reflectisse um estilo de vida urbano, jovem, confortável.

4. Sendo que "Under Control" representa uma reflexão pessoal, em que medida podemos ver o Tiago Loureiro reflectido nela?
As peças foram quase todas feitas à minha medida. Experimentei-as, usufrui-as, fui fazendo alterações consoante os problemas que eu encontrava. Para mim, as peças têm que ser confortáveis, caso contrário não as uso ou não as compro. Não gosto de sentir costuras, não gosto de pespontos em demasia, o que resultou em muitas costuras e acabamentos manuais, como os bolsos de chapa em malha cosidos pelo interior. Os forros têm de ser macios. As peças são largas e livres para que as tarefas do dia-a-dia possam fruir da melhor forma.
Fotografia de Maria Meyer, Cosmic

5. Podes falar-me um pouco acerca dos materiais que escolheste?
Jersey, pele de pêssego, malha de seda, napa e cetim.

6. Ao nível do corte e design, no que é que a tua colecção se distingue das outras?
As linhas são simples e rectas. As peças têm poucos cortes, costuras ou encaixes, apenas o estrutural. Quase todas têm um caimento natural, fluído e livre. Apenas a capa é mais estruturada e menos "wearable".

7. Falando do impacto gráfico da tua colecção, que tipo de cores e texturas escolheste?
Preto, antracite, cinza claro, toupeira, cobre. Texturas macias ou craqueladas que provocam reacções antagónicas.

8. Essas reacções antagónicas encontram-se presentes de mais alguma forma?
Sim, nas dicotomias: luz/sombra, o exterior a negro e os forros luminosos num suave cetim cor de cobre, calor/frio, o que mostramos no exterior e o que guardamos interiormente, etc.

9. Como coadunaste o styling com os coordenados que apresentaste?
Optei por collants pretas, era para ter umas perneiras em pele, que retirei antes do desfile, porque não estavam a assentar bem nas pernas das manequins e achei que não eram necessárias. Ainda assim, estarão à venda posteriormente e serão utilizadas no lookbook, quando tiver tempo para o fazer. De resto, usei toucas e uma mochila a acessorizar o primeiro coordenado, que curiosamente foi a peça que mais interesse despertou no público e da qual tenho encomendas generosas. Os cabelos não foram decididos por mim e tiveram de ir com um apanhado por causa do desfile da Ana Ramos, onde estavam presos por um açaime cor-de-pele. Era suposto terem o cabelo impecavelmente liso, mas não conseguimos desfazer o penteado a tempo da minha saída e as manequins tiveram que ir para a passarela assim. Muito a contragosto, mas eu entendo a necessidade. São coisas que nos ultrapassam, naturalmente, e que, talvez para quem não conheça a logística destes eventos, possa parecer mal, mas é mesmo assim.
Fotografia de Tiago Loureiro

10. Qual dos coordenados foi o maior desafio? Destacarias alguma peça em particular como a peça-chave da tua mostra?
A túnica. O interior foi integralmente costurado à mão e eu nunca o tinha feito, pelo menos com tanta perfeição. Quanto mais te dedicas a uma peça, mais amor tens por ela e é por isso que a túnica, que é um básico, é a minha peça favorita. Peça-chave, e o maior desafio, foi a capa do coordenado final. Parecendo que não, o primeiro vestido também exigiu alguns desafios e, mesmo assim, não fiquei satisfeito com ele. Tenho que o repensar assim que tiver tempo.

11. O feedback pós-desfile foi positivo?
Metade das peças já estão vendidas e vou ter de fazer mais algumas para suprir encomendas. Quase todos os dias, até hoje, recebo encomendas da mochila. Isto faz-me pensar: "Tiago, porque raio não fizeste mais acessórios?". Mas fui sendo consumido pela logística enorme do evento, tinha a meu cargo todo o press e outras áreas, o que não me permitiu concentrar como queria em alguns pontos da colecção. Quanto às outras peças, vou ter de fazer mais algumas para suprir encomendas, também. Espero recuperar, pelo menos, o valor do investimento, que rondou os 1000 euros. De resto, recebi uma chamada da Lidija Kolovrat a convidar-me para integrar a equipa da nova colecção para a ModaLisboa e é o que estou a começar a fazer agora.
Fotografia de João Bacelar

Esta entrevista resultou da elaboração de um
questionário-padrão aos designers do DEMO 2013.

Marta F. Cardoso

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