domingo, 30 de junho de 2013


DEMO 2013, um evento que apresentou os projectos finais dos alunos do Mestrado em Design de Moda da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (FA-UTL). Decorreu no passado dia 20 de Junho, pelas 21h30 no MUDE (Museu do Design e da Moda).

No decorrer desta semana, o Trend me too dedicou todos os posts semanais à exposição e publicitação das colecções dos alunos participantes neste evento. Agora, são publicadas as críticas gerais a cada colecção.

Fotografia de João Bacelar

Iúri – L’autre qui vient
Tomando como ponto de partida o conceito de desconstrução, termo filosoficamente cunhado por Jacques Derrida, Iúri explorou a ideia de futuro e a forma como percepcionamos o outro.
"L'autre qui vient" resultou numa colecção marcada por assimetrias e sobreposições. O designer criou interesse com o jogo de sobreposições e com com as cores, misturando tons neutros com cores vivas.
Os manequins desfilaram com um ar despreocupado e livre. No entanto, através de uma observação mais atenta das peças, Iúri mostrou ser um designer muito sensível aos pormenores. Meticuloso, rigoroso, perfeccionista.
O grande destaque vai para o impacto gráfico e visual que cada coordenado provoca. Isto pode ser visto na utilização de padrões, nas já referidas sobreposições e nas escolhas de styling, nomeadamente no que diz respeito aos sapatos e turbantes. As peças-chave desta colecção são, sem dúvida alguma, o casaco castanho e a capa preta. O casaco, pelo seu corte e assimetria e, a capa, pela sua imponência.
A única crítica menos positiva a esta colecção é o facto de a mesma, apesar de ser muito completa, apenas apresentar coordenados com calças, não havendo grande opção de partes de baixo, enquanto existe uma grande diversidade de partes de cima.

Fotografias de Adriana Boto

Rita Beja Ramos – Magic Me
Soube-se que "Magic Me" iria ser uma colecção divertida assim que se ouviu a música escolhida por Rita Beja Ramos para apresentar as suas peças.
Com um corte extremamente feminino e que realça as curvas do corpo da mulher, Rita apresentou uma colecção toda ela desenvolvida e trabalhada à roda do látex, um material pouco comum e de difícil manuseamento.
Correndo o risco de ser mal interpretada, devido a esta escolha de material, a designer mostrou que está disposta a correr riscos e a ultrapassar estigmas sociais.
Os coordenados funcionaram como uma segunda pele, revelando uma fragilidade interessante que se intensificava pelas cores escolhidas - tons de coral. 
Infelizmente, não houve, na minha opinião, uma peça de destaque. O grande furor aconteceu no final do desfile quando Rita Beja Ramos apareceu lindíssima vestindo uma das suas criações em azul. "Deveria ter desfilado este coordenado", foi imediatamente isto que pensei.

Rita Beja Ramos por João Bacelar

O Simone – Uncountable
O Simone presenteou-nos com uma reflexão acerca da Moda, explorando os conceitos emergentes num mundo habituado às massas, ao rápido e à globalidade. “Uncountable” resulta, assim, numa colecção conceptual que se traduz numa originalidade extrema e numa interpretação brilhante do papel do designer nos dias que correm.
Desde a escolha dos sons de fundo (barulho de pespontos) até às proporções e jogos de formas geométricas, nada foi deixado de lado. Notou-se uma clara concepção, materialização e reflexão ao longo de toda a colecção.
Visualmente, os coordenados apresentados faziam-nos lembrar material escolar. Dossiers, argolas de encadernação, cadernos, micas, papel, cartolinas, furadores, argolas autocolantes para remediar as folhas quando as arrancamos sem querer do dossier… Uma quantidade imensa de informação contra balanceada pelas cores escolhidas, o puro branco e o cinzento brilhante.
Esta colecção primou pelo trabalho de corte, estrutura, confecção, proporções e geometria. “Uncountable” revelou-se uma colecção muito completa que poderia ter originado problemas de fitting devido à dimensão das peças, mas que resultou de uma forma impecável.
Fotografia por Adriana Boto

Cibele Vieira – Black Forest
Mistério, sensualidade, poder. Cibele Vieira optou por nos transportar até um mundo de fantasia, contando-nos a história de uma mulher forte e sem medos que se aventura numa floresta negra, sem receio de se perder ou de enfrentar qualquer tipo de perigo.
"Black Forest" destaca-se por ser uma colecção repleta de transparências e de assimetrias. O preto total é contra-balanceado pela opção de tecidos com padrão floral e pela sua mistura com tecidos leves e transparentes.
O grande destaque vai para a capa comprida, apesar de não ter gostado da assimetria na parte de atrás. Esta capa faz-nos lembrar a capuchinho vermelho, mas representada de uma forma dark, misteriosa e sensual. Ao nível do styling, destaque para a escolha dos sapatos e maquilhagem.

Fotografia de Paulo Ribeiro

Sara Santos – Lockdown
"Lockdown", uma colecção com propostas para o sexo feminino e masculino. Sara Santos animou-nos com a escolha da música e com o aspecto grunge e urbano das suas peças.
Esta foi uma colecção muito rica no que diz respeito ao impacto visual e à diversidade de tecidos usados. A designer mostrou ser muito atenta ao corte e confecção, revelando uma especial atenção para pormenores como as transparências pouco evidentes, mas presentes, em alguns coordenados.
As aberturas nas peças conferiram dinamismo e impacto, lembrando, igualmente, a inspiração de Sara para esta colecção: o estado de guerra.
Como pequeno apontamento pessoal, gostaria de referir que gostei muito do facto desta colecção ser inspirada num espírito militar e ter apresentado coordenados tanto para homem, bem como para mulher. Um toque meio feminista, que não sei se foi propositado, pelo qual nutri um especial carinho.

Fotografia de Paulo Ribeiro

Ana Isabel Ramos – On Skin
Uma colecção simples, prática e feminina.
Ana Isabel Ramos, com a sua colecção "On Skin", apresentou-nos propostas que vão resgatar marcos do passado, recorrendo à utilização de tecidos e materiais muito naturais.
Com um aspecto romântico e juvenil, as manequins desfilaram coordenados visualmente, e aparentemente, confortáveis e com um corte clean.
Apesar de o conceito ser interessante e de muitas das opções me terem cativado, as cores escolhidas poderiam ser um pouco mais alegres e animadoras.
Todas as peças foram impecavelmente executadas. Provavelmente, perdeu-se o encanto das mesmas por não serem adequadas para desfile. Apenas com uma observação mais próxima conseguimos compreender a riqueza desta colecção.

Fotografia de João Bacelar

Renata Bernardo – Knitwear Baboon
“Knitwear Baboon”, de Renata Bernardo, suscitou de imediato o interesse por parte do público, a começar pelo nome. “Babuíno de malha”, numa tradução livre, remete-nos essencialmente para a imagem do animal peludo, primata, antecessor do homem.
Esta colecção surpreendeu por ter sido uma das que mais trabalhou as malhas. Em tons monocromáticos, Renata transportou-nos para um mundo primitivo, animal, rudimentar.
Equiparando-nos a um primata, as sensações que “Knitwear Baboon” nos transmitem aparecem sobretudo nos sentidos mais básicos. Falo da visão e do tacto. O primeiro, devido ao impacto visual que as peças transmitem e, o segundo, devido ao uso de lãs que nos dão imediatamente a sensação de conforto, suavidade, calor e comodidade.
Nesta colecção, os pormenores visualmente mais ricos foram as assimetrias, os volumes e a mistura de tecidos mais leves com as malhas mais pesadas, o que conferiu originalidade e dinamismo à exploração do conceito.
Fotografia por João Bacelar

Tiago Loureiro – Under Control
Tiago Loureiro apostou numa colecção muito pessoal, baseada num período de introspecção.
“Under Control” foi uma das colecções onde, provavelmente, se tomaram mais riscos quer no que diz respeito aos tecidos usados, quer nos contrastes conseguidos e na usabilidade das peças. A escolha dos sapatos resultou numa imagem campestre, o que veio entrar em contraste com o feeling urbano e de streetwear.
Foram explorados conceitos paradoxais e antagónicos, tendo o designer revelado uma capacidade imensa para o detalhe, confecção e originalidade.
Com um styling despojado e urbano a aliar-se às propostas de acessórios, nas quais se incluíram uma mochila em pele e gorros, esta colecção ofereceu-nos um estilo confortável, prático e simples, revelando uma sensibilidade estética aprumada.
“Under Control” caracteriza-se pela sua jovialidade e por ser muito completa e usável, tendo sido apresentadas propostas para o sexo feminino e masculino. Reforçando o seu carácter antagónico, até em género se verifica a dicotomia, visto que muitas das peças podem ser consideras unissexo.
Para além disso, a possibilidade de usar as peças de diferentes maneiras (por exemplo, atar o vestido à frente, de lado ou atrás), é um factor atractivo para quem gosta de investir em peças de designer que possa usar vezes sem conta e sempre de forma diferente. Com este pequeno detalhe, Tiago Loureiro mostrou ser uma pessoa atenta à indústria e às necessidades do público.
Fotografia de Adriana Boto

Estas críticas não são, de forma alguma, textos jornalísticos.
Representam exclusivamente a minha opinião pessoal e não uma verdade absoluta.

Marta F. Cardoso

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